sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Cruzados e Templários em Portugal

Em 1144, as forças muçulmanas comandadas por Zengi, emir (governador, príncipe) de Mossul, conquistaram Edessa. Edessa era uma importante cidade dos Estados Latinos do Oriente, isto é, dos reinos fundados pelos cruzados aquando da Primeira Cruzada, de 1096 a 1099 (o Reino de Jerusalém, o Principado de Antioquia e os Condados de Edessa e Tripoli). Zengi queria unir os vários emirados da Síria Muçulmana – já contava com Mossul e Alepo, as duas principais fortalezas árabes do Levante – para melhor conseguir tomar os estados cruzados, e o Condado de Edessa era o maior e o menos populoso. A conquista foi rápida e marcou o início da Jihad, ou contra-cruzada muçulmana.
Entretanto, na Europa o Papa Eugénio III lançava um apelo a todos os monarcas cristãos, mas principalmente aos mais fortes, o da França e o do Sacro Império Romano, para pegarem em armas contra aos Turcos, pela “salvação da Cristandade”. Os dois grandes monarcas, Luís VII da França e Conrado III da Alemanha, juntamente com inúmeros nobres de ambos ou ainda de outros países europeus, partiriam para o Levante para reconquistar Edessa.
Na acção de Eugénio III, participa activamente o monge e clérigo Bernardo de Clairvaux, mais conhecido por São Bernardo, um dos mais santos homens do seu tempo. Piedoso e muitíssimo inteligente, consegue proteger, no meio da confusão da cruzada, os Judeus perseguidos pelos fanáticos cristãos, na França, na Itália, na Hungria mas principalmente na Alemanha.
É lançada, portanto, a Segunda Cruzada. As Cruzadas são movimentos militares cristãos, que partiram da Europa Ocidental e o seu objectivo era colocar a Terra Santa (actual Palestina), assim como a cidade de Jerusalém sob o domínio dos cristãos. Estes movimentos deram-se entre os séculos XI e XIII, na época em que a Palestina e maior parte do Médio Oriente estava sob controlo dos Muçulmanos (Mouros). Antes das cruzadas falava-se em peregrinação e guerra santa. Estas novas palavras, surgiram pois os participantes que participavam nas cruzadas consideravam-se soldadas de Cristo, assinalados pelo sinal da cruz que se encontrava bordado nas suas roupas. Houve ao todo oito cruzadas, desde 1096 até 1270, quando foi lançada uma derradeira cruzada por São Luís, Rei de França, em direcção a Tunes, onde o rei morreu e onde o sonho da cruzada terminou.
Mas antes dos monarcas da Segunda Cruzada se porem a caminho, uma cruzada de nobres e de barões põe-se a caminho vindos de Inglaterra e do Norte de França, em 1147. Eram ao todo Flamengos, Ingleses, Normandos, Franceses e Escoceses, que juntos se intitulavam ‘francos’, como aliás se denominavam os cristãos dos reinos cruzados do Levante. Eram comandados por vários barões da baixa nobreza, como o Condestável de Suffolk, Henry Glanville, e outros capitães como André de Londres, Simão de Dover ou Arnaldo III, Earl (conde) de Aernshot. Estes homens puseram-se caminho, via marítima, para a Terra Santa.
Porém, logo que passaram pelo Norte da costa galega, atracaram perto de Lisboa. Nessa altura, o antigo conde portucalense Afonso Henriques e agora Rei de Portugal Afonso I passava por conquistar cidades muçulmanas na margem Norte do Tejo, ainda sobre o domínio do emir de Badajoz. Tinha conquistado Santarém por assalto, mas o seu principal alvo era a cidade de Lisboa, a mais rica e mais populosa cidade do Oeste da Península Ibérica. Em 1147, El-Rei preparou-se para o ataque.
No dia 1 de Julho, os cruzados e os portugueses cercaram a cidade, por terra e por mar. O cerco demorou algum tempo, mas no fim os muçulmanos foram obrigados a ceder e renderam-se. Este é o primeiro episódio da grande ajuda que os cruzados, e os ‘francos’, prestaram ao Reino de Portugal. Vários destacamentos dos cruzados do cerco de Lisboa permaneceram em Portugal, com D. Afonso Henriques. Ao contrário do sucesso do rei português, no Levante a Segunda Cruzada acabou por ser um fracasso e os dois monarcas não conseguiram reconquistar o alvo.
Há outro episódio da influência dos ‘francos’ em Portugal. Isto dá-se com a Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão, conhecidos universalmente como Templários. Os Templários, fundados antes da Segunda Cruzada com leis e obrigações baseadas nos escritos de São Bernardo, em 1119, eram uma ordem militar que cedo se espalhou pelo Mediterrâneo, criando feitorias, isto é, postos comerciais e militares, em praticamente todas as nações da Europa. Os Templários tinham o seu principal teatro de operações na Síria, obviamente, a tentarem reconquistar Jerusalém (caiu em 1187 para as mãos do sultão egípcio Saladino), mas a riqueza e o orçamento vinham todos das feitorias. Havia, inclusivamente, duas muitíssimo importantes feitorias em Portugal: Almourol e Tomar. Afonso Henriques, na data da fundação do reino e com o objectivo de conquistar terras aos Mouros e de defendê-las, entregou estes territórios, muito extensos e ricos, às ordens do Templo e, mais tarde, de Santiago (um dos grandes ramos dos Templários).
A primeira a ser entregue foi o extenso território nos arredores de Tomar, um pequeno concelho do Norte do País, à volta do séc. XIII. Isto quando os Templários começavam subitamente a entrar num declínio radical, paralelo à fraqueza dos Estados Latinos do Oriente. Desta forma, a principal riqueza e fonte de poder da Ordem do Templo eram as faustosas cortes da Europa, entre elas a de Portugal.
Em Tomar, os Templários construíram um dos mais belos palácios do seu tempo: o Convento de Cristo. A lenda diz que os Templários, antes de serem julgados e extintos pelo rei francês Filipe, o Belo, tinham escondido o seu grande tesouro em Tomar. Porém, nunca se o encontrou…
Almourol era por sua vez um grande castelo no Tejo, rodeado por água e numa pequena ilha, onde parecia impenetrável. Servia como guarda avançada contra os Muçulmanos no tempo de D. Afonso Henriques. Depois obviamente foi perdendo poder e influência no Reino, mas a Ordem do Templo (mais tarde Ordem de Cristo) continuou poderosa como sempre.
Os Templários e os cruzados tiveram portanto um importantíssimo papel na formação de Portugal. Receberam ou conquistaram extensos territórios no Norte e no Alentejo. Nem o rei nem o próprio Papa os podiam enfrentar. Foi só depois de estarem separados e no declínio que as ordens militares foram eliminadas das páginas da História, no séc. XVII…
Bibliografia: http://en.wikipedia.org/wiki/Crusades

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